quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Violência de gênero: a mulher em foco



A violência doméstica é possivelmente a maior nódoa social que prospera em diversos países. Ainda que esse abuso não ocorra somente nas relações conjugais e permeie a vida social como um cancro doloroso, a violência contra a mulher é realidade latente no corpo social e provoca a opinião pública.

Conquanto difícil desvencilhar-se do círculo vicioso, é necessário fazê-lo. À Família, à Sociedade e ao Estado cabe o dever de um olhar diferenciado para essa situação, que corrói a alma e dilacera o espírito. O SILÊNCIO por parte da vítima apenas alimenta o animus covarde do criminoso.

Numerosos estudiosos dedicam-se a determinar as causas e as fases do fenômeno, sobretudo, para conscientizar e garantir que a vítima e os seus parentes sejam capazes de detectar os casos antes que ocorram tragédias fatais.

A violência de gênero não somente se trata da evidente agressão física, com a qual comumente a identificamos, mas versa, ainda, sobre a agressão psicológica, que, ademais, constitui a sua origem. Através de insultos e outras formas vexatórias, os agressores estabelecem uma evidente posição de domínio. Assim, por exemplo, indicam às mulheres como deverão vestir-se ou deixam-lhes clara a sua inutilidade fora do trabalho doméstico, assim como a sua inferioridade intelectual. Pouco a pouco, afastam-nas das vivências familiares e sociais, para impor-lhes a reclusão caseira e impedindo-lhes que, na maioria dos casos, trabalhem fora. Conseguem que perca todo o contato com uma realidade objetiva e levam-nas a converterem o lar em seu único mundo, fora do qual se sentirão desprotegidas.

Depois do maltrato psicológico, vem o físico, que se apresenta a partir de leves bofetadas, que evoluem para espancamentos contínuos. Normalmente, escudam-se os agressores num estado de embriaguez, atrás do qual se desculpam e se arrependem visivelmente. Nos casos extremos, por desgraça e muito frequente, a violência desemboca no assassinato, particularmente, se a vítima se rebela, seja através de denúncia judicial ou contando-a a alguém que julgue capaz de ajudá-la a escapar do inferno ao qual é submetida. As causas que não chegam à denúncia ou que se façam demasiadamente tarde, radicam geralmente no isolamento que sofre a vítima. Esse isolamento provoca, por um lado, a insegurança da vítima em sair de casa e que se acredite incapaz de viver independente do homem; e, por outro lado, que essa realidade seja a única e que a considere correta. Literalmente, transformam-se essas mulheres em zeros à esquerda, como indicam diariamente e a todo o momento os seus algozes.

As motivações que movem o carrasco, trafegam por diversas causas. Geralmente, são indivíduos que sofreram violência, de alguma forma, durante a infância, época decisiva na formação da personalidade - foram vítimas diretas ou testemunharam o abuso do pai contra a mãe.

No Brasil, as leis promulgadas em anos recentes, ainda que insuficientes, são um primeiro passo. Os tribunais exclusivamente dedicados a esses casos, as descobertas sobre o comportamento dos criminosos, as linhas diretas de denúncia, que são anunciadas nos veículos de comunicação, até os informativos ou as medidas de restrição e proteção da vítima, embora necessitem de melhorias na sua eficiência e diligência, devem ser levados em consideração, porque há alguns anos nem sequer existiam. Ocorre atualmente uma forte consciência social, que ajuda a aumentar o número de reclamações a cada ano. Isso demonstra, que as vítimas ousam denunciar, o que não acontece em muitos países, nos quais os números mais baixos decorrem da falta de reclamações.

Na verdade, a raiz do problema é social. O machismo enraizou-se de tal forma, que continua palpável, a afrontar os progressos a favor da concretização dos direitos das mulheres. A esse respeito, é de sabença, que embora as mulheres tenham acesso ao mercado de trabalho, continuam a ganhar menos, ainda que exerçam posições de igual responsabilidade àquelas exercidas pelos homens.

A herança da sociedade nacional, que tradicionalmente gira em torno do masculino, persiste de tal maneira que, às vezes, chega-se a qualificar, desdenhosamente, o feminismo exacerbado, o que não é nada mais do que o desejo de ajudar a essas mulheres em situação de violência. Centrar-se na violência sobre as mulheres, em detrimento da que se exerce sobre os homens, não é desprezo a esses, mas ocorre porque os casos são mínimos em relação aos maus-tratos travados contra as mulheres.

Há de se reconhecer que o papel social ainda é nefasto, pois alimenta o machismo. Considera-se também abusiva a seguinte colocação, por parte de algumas pessoas: "Não sei como uma pessoa tão inteligente e preparada, se permite cair e permanecer numa situação dessas!" Oras, os abusos ocorrem, sejam as vítimas inteligentes ou limitadas, belas ou feias, jovens ou velhas, magras ou gordas e assim por diante. Tudo dependerá do momento de fragilidade que estejam a viver. Isso é PRECISO ser compreendido e levado em consideração. Ignorar essa condição é uma forma de omissão - porque é mais fácil ignorar o problema alheio. A verdade, é que o opressor sempre se aproveita do bom caráter das vítimas, dos seus medos, das suas necessidades temporárias e dos seus pudores em enfrentar o julgamento social.

As soluções passam, assim, pela educação e a conscientização, que devem ser incentivadas. Não somente há de se fazer compreender às vítimas a sua insustentável situação, com a necessidade e a possibilidade da denúncia, mas também conseguir que o resto da população reconheça como crime os casos que ocorrem ao seu derredor e que saiba como atuar corretamente sem que ocorram situações ainda mais complicadas ou nefastas.

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 26 - 27 de agosto de 2016 – 3h12

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