A violência doméstica é possivelmente a maior nódoa
social que prospera em diversos países. Ainda que esse abuso não ocorra somente
nas relações conjugais e permeie a vida social como um cancro doloroso, a
violência contra a mulher é realidade latente no corpo social e provoca a
opinião pública.
Conquanto difícil desvencilhar-se do círculo
vicioso, é necessário fazê-lo. À Família, à Sociedade e ao Estado cabe o dever
de um olhar diferenciado para essa situação, que corrói a alma e dilacera o
espírito. O SILÊNCIO por parte da vítima apenas alimenta o animus covarde do
criminoso.
Numerosos estudiosos dedicam-se a determinar as
causas e as fases do fenômeno, sobretudo, para conscientizar e garantir que a
vítima e os seus parentes sejam capazes de detectar os casos antes que ocorram
tragédias fatais.
A violência de gênero não somente se trata da
evidente agressão física, com a qual comumente a identificamos, mas versa,
ainda, sobre a agressão psicológica, que, ademais, constitui a sua origem.
Através de insultos e outras formas vexatórias, os agressores estabelecem uma
evidente posição de domínio. Assim, por exemplo, indicam às mulheres como
deverão vestir-se ou deixam-lhes clara a sua inutilidade fora do trabalho
doméstico, assim como a sua inferioridade intelectual. Pouco a pouco,
afastam-nas das vivências familiares e sociais, para impor-lhes a reclusão
caseira e impedindo-lhes que, na maioria dos casos, trabalhem fora. Conseguem
que perca todo o contato com uma realidade objetiva e levam-nas a converterem o
lar em seu único mundo, fora do qual se sentirão desprotegidas.
Depois do maltrato psicológico, vem o físico, que
se apresenta a partir de leves bofetadas, que evoluem para espancamentos
contínuos. Normalmente, escudam-se os agressores num estado de embriaguez,
atrás do qual se desculpam e se arrependem visivelmente. Nos casos extremos,
por desgraça e muito frequente, a violência desemboca no assassinato,
particularmente, se a vítima se rebela, seja através de denúncia judicial ou
contando-a a alguém que julgue capaz de ajudá-la a escapar do inferno ao qual é
submetida. As causas que não chegam à denúncia ou que se façam demasiadamente
tarde, radicam geralmente no isolamento que sofre a vítima. Esse isolamento
provoca, por um lado, a insegurança da vítima em sair de casa e que se acredite
incapaz de viver independente do homem; e, por outro lado, que essa realidade
seja a única e que a considere correta. Literalmente, transformam-se essas
mulheres em zeros à esquerda, como
indicam diariamente e a todo o momento os seus algozes.
As motivações que movem o carrasco, trafegam por
diversas causas. Geralmente, são indivíduos que sofreram violência, de alguma
forma, durante a infância, época decisiva na formação da personalidade - foram
vítimas diretas ou testemunharam o abuso do pai contra a mãe.
No Brasil, as leis promulgadas em anos recentes,
ainda que insuficientes, são um primeiro passo. Os tribunais exclusivamente dedicados a esses
casos, as descobertas sobre o comportamento dos criminosos, as linhas diretas
de denúncia, que são anunciadas nos veículos de comunicação, até os
informativos ou as medidas de restrição e proteção da vítima, embora necessitem
de melhorias na sua eficiência e diligência, devem ser levados em consideração,
porque há alguns anos nem sequer existiam. Ocorre atualmente uma forte
consciência social, que ajuda a aumentar o número de reclamações a cada ano.
Isso demonstra, que as vítimas ousam denunciar, o que não acontece em muitos
países, nos quais os números mais baixos decorrem da falta de reclamações.
Na verdade, a raiz do problema é social. O machismo
enraizou-se de tal forma, que continua palpável, a afrontar os progressos a
favor da concretização dos direitos das mulheres. A esse respeito, é de
sabença, que embora as mulheres tenham acesso ao mercado de trabalho, continuam
a ganhar menos, ainda que exerçam posições de igual responsabilidade àquelas
exercidas pelos homens.
A herança da sociedade nacional, que
tradicionalmente gira em torno do masculino, persiste de tal maneira que, às
vezes, chega-se a qualificar, desdenhosamente, o feminismo exacerbado, o que
não é nada mais do que o desejo de ajudar a essas mulheres em situação de
violência. Centrar-se na violência sobre as mulheres, em detrimento da que se
exerce sobre os homens, não é desprezo a esses, mas ocorre porque os casos são
mínimos em relação aos maus-tratos travados contra as mulheres.
Há de se reconhecer que o papel social ainda é
nefasto, pois alimenta o machismo. Considera-se também abusiva a seguinte
colocação, por parte de algumas pessoas: "Não sei como uma pessoa tão
inteligente e preparada, se permite cair e permanecer numa situação dessas!"
Oras, os abusos ocorrem, sejam as vítimas inteligentes ou limitadas, belas ou
feias, jovens ou velhas, magras ou gordas e assim por diante. Tudo dependerá do
momento de fragilidade que estejam a viver. Isso é PRECISO ser compreendido e
levado em consideração. Ignorar essa condição é uma forma de omissão - porque é
mais fácil ignorar o problema alheio. A verdade, é que o opressor sempre se
aproveita do bom caráter das vítimas, dos seus medos, das suas necessidades
temporárias e dos seus pudores em enfrentar o julgamento social.
As soluções passam, assim, pela educação e a
conscientização, que devem ser incentivadas. Não somente há de se fazer
compreender às vítimas a sua insustentável situação, com a necessidade e a
possibilidade da denúncia, mas também conseguir que o resto da população
reconheça como crime os casos que ocorrem ao seu derredor e que saiba como
atuar corretamente sem que ocorram situações ainda mais complicadas ou
nefastas.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 26 - 27 de agosto de 2016 – 3h12
Nenhum comentário:
Postar um comentário